O impacto da pandemia no setor de embalagens, ao contrário de diversos outros segmentos, não foi resultado da diminuição do consumo. Se, por um lado, a produção do setor teve queda significativa nos primeiros meses da crise, entre abril e maio, por outro, a demanda aumentou, em parte devido à mudança repentina nos hábitos de consumo da população. A conclusão é do Relatório Anual Macro Setorial 2020 da Costdrivers, uma plataforma de inteligência de mercado que mede indicadores e analisa projeções para tomadores de decisão dos setores de compras e suprimentos.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de junho a indústria começou a se recuperar. Entre agosto e outubro de 2020, a produção desse segmento apresentou alta de 15,4% ante o período de maio a julho do mesmo ano. O crescimento foi puxado, principalmente, pelas embalagens de madeira (30,1%), de metal (19,5%) e de papel e papelão (16,4%).
No entanto, o aumento da demanda, potencializado pela maior quantidade de entregas em delivery, além do maior consumo de produtos farmacêuticos e de cuidados pessoais, elevou também a pressão sobre os preços. Os produtos alimentícios e horticultura tiveram a maior participação nessa mudança de hábito, representando 58,6%, seguido pelo de Químico e Derivados (11,5%) e produtos farmacêuticos, perfumaria e cosméticos (6,31%).
Para a economista Tânia Gofredo, da empresa Datamark, que detém a plataforma Costdrivers, o comportamento dos preços obedece a três critérios, que são demanda, produção e estrutura de custos. “O setor iniciou o ano passado com queda na produção, devido ao fechamento das fábricas, mas, assim que os serviços reabriram, a alta demanda, e em sua maioria de embalagens diferenciadas, fez com que a indústria buscasse alternativas às matérias-primas normalmente utilizadas e que estavam em escassez, como é o caso das aparas”, explica a executiva.
“Como alternativa, o setor começou a usar mais o Kraftliner, que, por sua vez, também sofreu aumento de custos. Esse desbalanceamento entre oferta e demanda elevou significativamente os preços das caixas de papelão e papel ondulado, por exemplo”, detalha Gofredo.
Essa mudança brusca na fabricação dos insumos deve manter a pressão sobre os preços nos primeiros meses de 2021. Além disso, a inflação de custos acumulada no mercado e a alta taxa de câmbio favorecem esse cenário.
Apesar dos indicadores econômicos apontarem mais peso no bolso dos gestores, a expectativa da Associação Brasileira de Embalagem (ABRE) é de que o setor cresça 1,6% ao ano até 2024, projeção acima do índice anual de 1,1% registrado entre 2014 e 2018.
Se por um lado as previsões otimistas elevam o índice de confiança dos empresários, de outro especialistas alertam para oscilações de suprimento na cadeia de alimentação que podem afetar a indústria de embalagens, já que os produtos alimentícios são responsáveis por cerca de 60% da produção de embalagens no Brasil.
Um recente estudo da consultoria Bain & Company apontou para algumas tendências que podem desestabilizar o segmento, entre elas o colapso de refeições fora de casa e as interrupções na cadeia de fornecimento de grãos e proteínas.
O cenário previsto é de boas condições de produção e a normalização da cadeia produtiva neste ano. “Mas as previsões estão atreladas, em grande parte, ao crescimento econômico do país, como a chegada da vacina e também a retomada em outros países, que devem favorecer as exportações. O dólar mais comportado também deve ajudar a segurar os preços no Brasil”, avalia a economista.