O Brexit fará alguma diferença para o preço do chocolate? Pode ser. Por isso, os traders de cacau estão ansiosos com a aproximação do referendo que decidirá pela permanência ou não do Reino Unido na União Europeia. Negociado na bolsa de Londres, o cacau é uma das poucas matérias-primas ainda denominadas em libras esterlinas e as variações de suas cotações têm impacto sobre a moeda britânica. “Haverá mais volatilidade [no cacau] antes do referendo”, diz Jonathan Parkman, diretor adjunto de agricultura da corretora de commodities Marex Spectron. A volatilidade implícita da libra, que mede quanto os investidores estão dispostos a pagar para se proteger de futuras oscilações da moeda, deu um salto nesta semana depois que pesquisas indicaram um renovado ímpeto da campanha pela saída do Reino Unido da UE. A volatilidade implícita de um mês subiu para 22,07%, maior patamar desde fevereiro de 2009. O cacau, principal ingrediente do chocolate, também é negociado em dólares na bolsa de Nova York. O contrato em libras é o preferido dos comerciantes físicos de cacau, enquanto os “players” financeiros, como os fundos de hedge, gravitam em torno da bolsa de Nova York. O mercado do cacau em Londres normalmente é um pouco menos volátil, mas no começo da semana a volatilidade implícita de dois meses chegou perto da de Nova York. A última vez que a volatilidade do mercado de Londres subiu acentuadamente foi no começo do ano, quando as preocupações com os ventos sazonais do Harmatã na África ocidental levaram a uma alta dos preços, como lembra Carlos Mera, analista do Rabobank em Londres. Os tradings de cacau estão de olho no valor efetivo da libra em relação ao dólar americano. Uma grande queda da libra baratearia o valor dos contratos em Londres para os compradores em dólar, estimulando os contratos no curto prazo. Nos últimos anos, os temores com a escassez de oferta deram suporte ao preço, mas as preocupações com o Brexit enfraqueceram a moeda britânica, o que vem ajudando a sustentar as cotações da amêndoa em Londres, de acordo com analistas. Como resultado, o spread entre os contratos de Londres e Nova York aumentou, segundo diz Peter Mooses da RJO Futures, uma corretora de Chicago. Desde o começo de 2011, o cacau vem sendo negociado em Londres com um ágio de entre 20 libras e 120 libras a tonelada sobre Nova York. No começo da semana, esse ágio estava perto de 140 libras, o maior desde setembro de 2010. Se as pesquisas envolvendo o Brexit ficarem mais apertadas, operadores e investidores vão se proteger contra uma queda da libra, comprando contratos que ofereçam o “direito de vender” a libra, e contra um aumento do preço do cacau, comprando o “direito de comprar” a commodity. “Se a libra continuar caindo por causa das preocupações com o Brexit, os operadores continuarão comprando ‘puts’ na moeda e ‘calls’ no cacau”, diz Mooses. A libra foi a moeda dominante dos mercados de commodities durante o auge do império britânico. Ainda teve papel importante até 1993, quando o contrato de cobre na London Metal Exchange mudou da libra para o dólar americano, depois de uma crise cambial. O alumínio foi negociado em libras até 1987. O chá e o café robusta, o grão de qualidade inferior usado na produção de café instantâneo, também estiveram atrelado à moeda até 1992. O impacto da libra sobre as cotações do cacau deverá ser de curto prazo, com os fundamentos da oferta e demanda influenciando as oscilações dos preços no médio e longo prazos, segundo analistas. Desde o começo de 2013, as preocupações com as limitações da oferta provocadas pelo clima ruim e as expectativas de uma maior demanda dos mercados em desenvolvimento impulsionaram o preço do cacau. Hoje, a principal preocupação é a qualidade da “safrinha”, a segunda safra anual do cacau na África, que acaba de terminar e será seguida pela “safra principal” no fim do ano.
Valor Econômico – 09/06/2016
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