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02/05/2016
3 min de leitura

Armadores reajustam frete para recuperar margem

Os maiores armadores do mundo no transporte marítimo de contêineres começaram ontem uma rodada global de aumento de fretes que vai abranger também a maioria dos tráfegos com o Brasil. Os reajustes variam por armador, rota, sentido da rota – exportação ou importação -, e por tamanho de contêiner, indo de US$ 100 a US$ 750 por unidade.

A primeira razão para a alta é estrutural: os armadores estão com um custo adicional para posicionar contêineres vazios para atender exportações brasileiras, pois a viagem que historicamente pagava as rotas com o país era a importação – que implodiu com a crise. Outra é conjuntural. As exportações estão crescendo, resultado da apreciação do dólar. Isso, aliado à retirada de espaço nas linhas para ajustar oferta e demanda nos navios, permitiu o reajuste dos fretes. Aproximadamente 95% do comércio exterior brasileiro em volume é feito via marítima. O transporte regular, realizado em contêineres – onde estão as cargas de maior valor agregado -, é dominado por companhias estrangeiras. A negociação do preço do serviço é livre entre o transportador e o dono da carga (o embarcador). “O aumento é para minimizar as perdas, não vai repô-las”, diz um executivo da navegação que pede confidencialidade. Como exemplo, ele cita que há dois anos o frete de um contêiner de 40 pés (chamado de “Feu”, na sigla em inglês) estufado com frango saindo do porto de Santos (SP) para Hong Kong (China) estava em US$ 2,4 mil. Hoje sai a US$ 1,5 mil. Nesta rota os aumentos apurados pelo Valor válidos desde ontem variam de US$ 200 a US$ 700. Entre o fim de 2010 e hoje o valor médio dos fretes de exportação do Brasil para todos os destinos caiu entre 40% a 50%, diz a Hamburg Süd, líder nos tráfegos com o Brasil. “Obviamente isso é um baque”, afirma Julian Thomas, diretor-superintendente no Brasil do armador. “Já fizemos tudo o que pudemos, só podemos aumentar o frete para compensar o desenvolvimento negativo das receitas.” Nos embarques a partir da Costa Leste da América do Sul, a companhia está aumentando o preço da viagem para a Europa, para o Extremo Oriente, para a Costa Leste dos Estados Unidos e para o Oriente Médio, com valores de US$ 300 e US$ 500 por Teu (contêiner de 20 pés) e Feu, respectivamente. “O aumento não é impositivo, é apenas indicativo, depende da negociação. E normalmente é feito em passos”, diz Thomas, num aceno de que novas altas podem vir. “É cedo para falar disso, temos de ver como o mercado reage, é uma relação de oferta e demanda”, afirma. Na Maersk Line, líder mundial da navegação, parte dos reajustes já ocorreu. O maior foi na importação da Ásia para a Costa Leste da América do Sul, que subiu em US$ 850 por Teu e em US$ 1,7 mil por Feu em 1º de março. Desde então essa viagem teve mais três altas – duas em abril e outra ontem. “A indústria como um todo dá liberdade de o cliente assinar um contrato de longo prazo [onde é possível negociar melhores condições] ou um ‘spot'”, diz João Momesso, diretor de trade e marketing da Maersk Line no Brasil. “O mercado da navegação perdeu muito dinheiro em 2015”, diz. A Maersk Line reduziu o lucro líquido mundial em 44% em 2015, para US$ 1,3 bilhão, devido à fraca demanda global e fretes baixos. “É muito importante que os armadores consigam achar maneiras sustentáveis de se manter no negócio. Os fretes, onde estavam, eram totalmente insustentáveis.” Para o especialista em transporte marítimo Leandro Barreto as estatísticas mostram que os fretes de fato caíram, afetando os resultados financeiros da indústria. “O aumento é questão de sobrevivência. Por outro lado há de se convir que os armadores tiveram economias de escalas importantes nos últimos anos com o aumento dos tamanhos dos navios”, pondera. Também o armador alemão Hapag Lloyd, que em 2015 reverteu o prejuízo do ano anterior, aplicou aumentos escalonados. Só na importação da Ásia para a Costa Leste da América Latina, uma das rotas mais importantes do comércio com o Brasil, foram quatro neste ano, o último no valor de US$ 750 por Teu, em vigor desde ontem. A empresa não quis falar.
Valor Econômico – 02/05/2016
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