O novo profissional de Compras

A área de suprimentos tende a ser cada vez mais estratégica dentro das empresas.
Para se ter uma ideia da sua relevância, o Departamento de Compras responde atualmente por 47% das despesas no setor industrial, podendo chegar a 80% na indústria química.

A seguir, o executivo Paulo Augusto Nascimento de Freitas fala sobre o novo perfil do profissional de Compras e conta como é o seu dia a dia como Procurement Coordinator da Mineradora Samarco.

 

Blog CostDrivers – Qual o perfil do “novo” diretor e/ou gerente de compras? O que mudou nessa área? 

Paulo Augusto Nascimento de Freitas – A função da área de Compras vem evoluindo ao longo dos anos, como percebe-se no próprio título da área, atualmente referida como Suprimentos ou Procurement. Mais do que uma simples alteração do título, a mudança reflete a evolução do escopo e atuação que, principalmente, passou de um perfil tático/operacional, no qual o principal objetivo era a colocação de pedidos e atendimento ao lead-time do cliente interno, para uma atuação em nível estratégico e colaborativo, entregando resultados, reduzindo os custos e desenvolvendo parcerias que permitam a viabilização da estratégia do negócio.

 

BCD – Quais os sinais dessa mudança?

Paulo Alguns sinais desta evolução também são percebidos na elevação do nível dos executivos da área, que passaram a atuar como diretores ou presidentes de suprimentos (CPO – Chief Procurement Officer) e na adequação da hierarquia na maioria das empresas, passando de uma subordinação às Operações para a Diretoria Financeira, o que certamente reforçou a importância da área para a entrega de resultados visto que grande parte do desembolso da empresa passará por um processo de aquisição conduzido pelo departamento.

O perfil atual do profissional de Suprimentos vem evoluindo, assim como o papel da área. Dentre as principais características dessa evolução destacam-se o conhecimento de Finanças e a capacidade analítica. Este profissional também precisa ter uma boa visão de negócios e entendimento do seu cliente interno e do processo que está atendendo; isto por que ele precisará atuar como interface de várias áreas e sempre recomendar a melhor decisão para o negócio. Isto não quer dizer simplesmente avaliar qual o melhor fornecedor, timing de aquisição ou ajustar a especificação do produto, mas a avaliação da própria coerência da requisição de compras e entendimento desta num contexto organizacional mais amplo.

Esta decisão passará pela busca de consolidação, produtividade, readequação de processos, desenvolvimento de novos produtos e fornecedores, almejando não somente a redução do TCO – Total Cost of Ownership, mas a sustentabilidade do negócio e a maximização dos resultados da empresa (muitas vezes esses ganhos não se refletem no menor custo de aquisição, mas em maiores margens na venda). Vale ressaltar que, neste contexto, atendimento de lead-time e conformidade não apresentam diferencias, mas premissas para qualquer processo de aquisição…

 

BCD – Isso quer dizer que o setor de Compras já se prepara para uma nova onda de evolução?

Paulo – Uma nova onda de evolução já está acontecendo e ampliará a complexidade de atuação na área. Ao advento de disciplinas como a inteligência, inovação aberta e o aumento da complexidade do ambiente de negócios, soma-se ainda o maremoto de informações que cresce vertiginosamente.

Os profissionais de suprimentos precisarão cada vez mais saber utilizar todas estas informações, classificá-las e gerar um sentido para a tomada de decisão; precisarão cruzar as informações corretas e analisá-las buscando soluções e causas que cada vez mais extrapolam os limites da organização e do seu entorno.

Neste sentido, posições como “cientista de dados” e “pesquisador de suprimentos” já são realidade e refletem estes novos perfis de profissional. Apesar de ser uma evolução que ainda aparece timidamente no Brasil, este movimento teve origem retratada no artigo Competing on Analytics  (leia aqui), por Thomas H. Davenport, pulicado na Harvard Business Review Magazine, em Janeiro de 2006.

 

BCD – Que tipo de informação esse novo profissional precisa para responder com agilidade as demandas do setor de Compras? Quais são essas novas demandas? 

Paulo – Para que este novo profissional consiga atender os requisitos de atuação, ele precisará cada vez mais de informações do ambiente interno e externo à empresa.

Externamente estas informações variam desde um nível macro até informações específicas sobre o produto ou serviço que estiver comprando. Num nível macro, informações macroeconômicas e setoriais, oferta e demanda, demanda concorrente, informações de comércio exterior, base de fornecimento, tendências de cost drivers e preços.

Também é preciso entender sobre desenvolvimento e inovação nos grupos de mercadoria, aonde os concorrentes e fornecedores estão investindo, quais os principais gargalos do setor, tecnologias disruptivas e métodos de aplicação.

Além disso, cada vez mais precisa-se entender detalhes do parceiro de negócio, desde um cost breakdown que permitirá maior capacidade de negociação, até a saúde financeira do fornecedor e a perenidade de suas empresas.

Este comprador também precisará estar conectado com melhores práticas em Procurement, sejam ligadas a processos, gerenciamento de categorias e núcleos de benchmarking que o permitam buscar novas oportunidades, mapear riscos e buscar validação às suas decisões.

Não menos importante, a disponibilização de informações internas do negócio, desde planejamento de demanda, histórico de preços, fornecedores, volumes de compra e também de dados relevantes ao negócio, como plano de vendas, mix de produtos, estratégia organizacional serão cruciais para um cruzamento adequado das informações e análise das interconexões entre elas, ajustando a tomada de decisão à realidade e coerência da empresa em que se atue.

 

BCD – O que interessa diretamente ao Procurement? 

Paulo – A este profissional interessará cada vez mais informações “tailor-made”, adequadas às suas necessidades específicas. Grandes clippings de notícias e fontes diversas de informações não são eficientes num ambiente de trabalho e reduzem a produtividade deste profissional.

Nesta base customizada este comprador precisará tanto de dados que o suportem na tomada de decisão do dia a dia, como de informações que lhe permitam evoluir como profissional.

No contexto de suprimentos, análises de mercado dos seus grupos de mercadoria, dashboards com preços e dados que demandem monitoramento contínuo, informações de concorrentes e fornecedores. Para o viés de médio e longo prazo, novas tecnologias, P&D, inovação aberta e sustentabilidade.

Este comprador também demandará informações para a execução de suas atividades, como modelos de análise e ferramentas, melhores práticas, processos e metodologias.

Já num contexto mais amplo da profissão, ele demandará informações sobre megatendências, evolução das empresas e modelos de negócio, tendências sobre profissão e seu nível da empregabilidade, além de cursos voltados para o seu desenvolvimento.

 

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