As medidas de quarentena e as restrições ao transporte na China, por causa da pandemia de Covid-19, limitaram o acesso de agricultores brasileiros a insumos importantes, como pesticidas. Contudo, são as variações dos preços em dólar e a taxa cambial que acendem o alerta amarelo no agronegócio, visto que o Brasil compra de lá 70% do glifosato usado como agrotóxico nas plantações de soja, milho e algodão. “O princípio ativo do glifosato, que se reflete nos preços, tem uma forte dependência da importação da China e Estados Unidos. Portanto, em se tratando de preços, se por um lado temos uma alta significativa do dólar no primeiro trimestre de 2020 e o mercado aquecido, criando uma expectativa de um repasse de preço aos compradores locais, por outro vemos uma oportunidade de negociação em função de preços estáveis do produto no mercado internacional”, diz Erick Boano, vice-presidente e fundador da COSTDRIVERS, plataforma de dados e inteligência de mercado.
Em 2019, adubos, herbicidas e fertilizantes (categoria em que entra o glifosato) apareceram no segundo lugar nas importações nacionais, somando US$ 9,1 bilhões (5,1% do total), atrás apenas dos óleos combustíveis de petróleo (7,3%). O volume de glifosato é expressivo para atender a necessidade de plantio de importantes commodities exportadas pelo Brasil, como a soja, que, sozinha, figura como a principal vendida a outros países. A Secretaria de Comércio Exterior (Secex) destaca que o Brasil comercializou, em média, 1,07 milhão de toneladas do grão por dia na primeira semana de maio (versus 455,1 mil na comparação anual – crescimento de 135%) e que a temporada de 2020 deve produzir um recorde de 124,5 milhões de toneladas, elevando o país ao topo do ranking de produtores, ocupado atualmente pelos EUA.
Fertilizantes estão mais acessíveis
Boano aponta que, diferentemente do caso do glifosato, a compra dos nutrientes que compõem a mistura de NPK (soma de cloreto de potássio, nitrato de amônio, MAP, DAP e SSP) está pulverizada entre dez países – seis dos quais concentram 82% da importação brasileira: Rússia (28%), Canadá (21%), Marrocos (13%), Belarus (10%), Israel (6%) e Alemanha (4%), ficando os 20% restantes distribuídos em cerca de 30 outros parceiros comerciais. O composto é um importante fertilizante químico usado no Brasil, com 16,9 milhões de toneladas importadas no ano passado. O desafio logístico também inspira atenção, contudo o especialista destaca que, apesar da volatilidade do dólar, os preços das matérias-primas do NPK apresentam queda em 2020. “O cloreto de potássio, que compõe os potássicos, registrou no acumulado 2018 e 2019 a maior variação dentre todos os nutrientes, de 19,7%, exceto em 2020, quando registrou queda de 14,7% de janeiro a fevereiro. O nitrato de amônio, que representa os nitrogenados, mostra queda de 11,7% no mesmo período”, afirma. Em sua plataforma, a COSTDRIVERS pontua, ainda, que a composição dos fosfatados foi a que mais contabilizou quedas de preços no intervalo, apresentando as seguintes variações: MAP (-14,2%), DAP (-12,5%) e SSP (-14,9%).