Retomada dos projetos de bauxita depende de recuperação de preços

São Paulo – Apesar de o Brasil possuir a terceira maior reserva de bauxita do mundo, com qualidade acima da média, a retomada dos investimentos em projetos locais só deve vir com a recuperação dos preços. “Enquanto a China mantiver minas deficitárias em operação, os preços continuarão deprimidos, o que impede uma retomada consistente dos projetos de bauxita”, avalia o diretor de mineração da Pöyry do Brasil, Marcelo Xavier. De acordo

com o presidente do conselho da Associação Brasileira do Alumínio (Abal), Alberto Fabrini, as empresas do setor vêm investindo em produtividade e melhoria de processos nas minas. “No entanto, sem grandes aportes em novos projetos”, disse o dirigente em entrevista recente ao DCI. Segundo Fabrini, o grande desafio da indústria, hoje, é se manter competitiva principalmente em relação à China. Para Xavier, a falta de perspectivas acerca da recuperação dos preços da bauxita, bem como do consumo na China, impedem grandes investimentos no Brasil. “O cenário global será fator determinante para que as empresas possam voltar a investir no País”, acrescenta. Recentemente, a Alcoa dobrou sua capacidade de produção de bauxita em Juruti (PA), através do que a empresa chama de “eliminação de alguns gargalos.” Segundo informou a gigante do alumínio, não houve investimentos significativos para esse aumento e, atualmente, a capacidade instalada da mina é de 4,8 milhões de toneladas. A produção, contudo, gira em torno de 2,6 milhões de toneladas. Já a Vale havia anunciado, no final do ano passado, a intenção de vender sua participação de 40% na Mineração Rio do Norte (MRN) – produtora de bauxita – para a Norsk Hydro. Mas a negociação foi encerrada porque “as duas empresas não conseguiram concordar com os termos comerciais”, divulgou a mineradora brasileira na ocasião da desistência, no mês passado. Enquanto isso, empresas no Brasil e no mundo aguardam a estabilização do mercado, especialmente na China, onde as minas deficitárias resistem à conjuntura atual. “Algumas plantas conseguem rodar com alto custo, mas muitas já fecharam”, estima Fabrini. Contudo, de acordo com o trader de alumínio Rodney de Oliveira, a recuperação dos preços só deve vir com o controle de capacidade instalada mundial. “Com a demanda flat [estável] e os custos crescendo em alguns lugares do mundo, a capacidade global terá que ser reduzida de fato, o que não parece estar ocorrendo”, pondera. Refinarias Além da mineração, o Brasil também possui grandes projetos na área de alumina. O produto intermediário entre a bauxita e o alumínio primário tem preço dez vezes superior ao do minério. “Temos bons projetos neste segmento”, pontua Fabrini. Um deles é a refinaria Alumar (Consórcio de Alumínio do Maranhão), resultado da união entre Alcoa, Rio Tinto Alcan e BHP Billiton. A última grande expansão da Alumar foi feita, entretanto, em 2009, de acordo com a Alcoa. A possibilidade de um novo investimento em aumento de capacidade até foi aventada no mercado no ano passado, mas não se concretizou. Outra grande promessa é o projeto Rondon (PA), da Companhia Brasileira do Alumínio (CBA), da Votorantim. Porém, diante do cenário adverso, hoje a empresa busca parceiros para tocar a produção. O investimento estimado pela CBA para exploração da reserva de alumina e bauxita é de cerca de R$ 6,6 bilhões. “A empresa encontrou uma série de dificuldades logísticas para tocar o projeto e agora precisa de um sócio”, avalia Xavier. Ele salienta que o Brasil tem muito mais chances de despontar nos dois primeiros níveis da cadeia produtiva e também na reciclagem. “Este é um mercado muito promissor no País, onde atuam importantes empresas como a Novelis e a Recicla BR.” O diretor da Pöyry acrescenta que o alto índice de reciclagem, principalmente de latas de bebidas, contribui para o sucesso do negócio localmente. Xavier pontua, contudo, que é difícil prever quando o mercado do alumínio vai apresentar retomada. Segundo ele, isso não deve acontecer em um horizonte de dois anos. “Enxergo recuperação primeiramente onde há mais valor, como na ponta da cadeia, e também na mineração.” No entanto, o mesmo não ocorre no negócio do alumínio primário. A China vem investindo fortemente na construção de plantas altamente competitivas. “Com a cotação atual, estes novos smelters ainda conseguem registrar lucros”, explica Oliveira. Já no Brasil, este elo da cadeia produtiva deve ficar pressionado por tempo indeterminado. “Não vejo um horizonte de retomada”, avalia Xavier.
DCI – 21/06/2016
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